A PRINCIPAL PREOCUPAÇÃO de quem escreve - nomeadamente crónicas e artigos de opinião - é a de ser claro, para que não possa haver dúvidas sobre o que diz ou quer dizer.
Ora, para ser bem sucedido nesse desiderato, tem de ter em atenção o expectável universo dos seus leitores, pois o mesmo texto poderá não ter a mesma receptividade (e compreensão) por parte dos do «Jornal de Letras», do «Correio da Manhã» ou dos que só lêem jornais desportivos.
A Internet (em geral) e a blogosfera (em particular), porém, tornaram de pouca valia tais cuidados, pois qualquer pessoa pode aceder a qualquer texto - o que, em si mesmo não teria mal nenhum se não se desse o caso de, por vezes, dar origem a mal-entendidos desagradáveis.
Assim, a solução (e a tentação...) pode ser a de nivelar por baixo a qualidade dos textos, procurando uma espécie de máximo divisor comum embora, eventualmente, em detrimento da - pelo menos pretendida... - qualidade literária.
Mesmo assim, há casos perdidos: é possível escrever alhos (recorrendo à linguagem mais chã) e vir alguém esgrimir contra bugalhos. E a experiência mostra que, em geral, de pouco adianta argumentar com esse alguém, pois, se não percebeu o texto inicial, também dificilmente entenderá os argumentos em sua defesa - mesmo que esteja de boa-fé.
Aliás, Scott Adams (o genial criador de Dilbert) já abordou esse problema (pois também ele, amiúde, se depara com leitores idiotas ou semi-analfabetos) recorrendo aos elbonianos, umas personagens que criou para esse e outros efeitos:
Numa tira, que ficou famosa, um desses imbecis informa:
- Escrever é fácil. Um dia esperamos também saber ler.
5 comentários:
O problema do portuga, é que é um alfabetizado disfuncional por natureza. Dir-me-á que não é um problema apenas nosso. Pois não, mas com os problemas dos outros podemos nós bem, não é?
Excelente texto, diz tudo.
:)
Infelizmente, este texto não é totalmente novo:
Escrevi-o já há muito tempo e, de vez em quando (quando se repete a situação nele descrita), vou buscá-lo e, eventualmente, dou-lhe um ou outro retoque, tornando-o mais ou menos explícito conforme me parece que merece quem o motivou.
Umas vezes, trata-se apenas de um mal-entendido; outras vezes, trata-se de inadequação do texto ao público-alvo; outras vezes é pior: é quando há grosseria ou má-fé.
Mas já me deparei com situações verdadeiramente inqualificáveis:
Foi o caso, um dia, de um patusco que, em vez de comentar o "post" no local próprio, foi fazê-lo para OUTRO BLOGUE, tendo o requinte de, ainda por cima, omitir o nome daquele onde coloquei o texto que estava a comentar!
Infelizmente, acrescento eu, e no pior cenário, este mundo virtual é feito por pessoas bem reais, e se na realidade do mundo exterior o que não faltam são trols, por que raios é que não haveríamos de os ver por aqui???
É só descer até ao post aberto e temos por lá um magnífico exemplar que se dignou contextualizar esta sua belíssima dissertação.
Como um dos vilões do Pinóquio dizia - e nunca esqueci - "dê-se corda a um burro e ele logo se amarra".
Ora bem!
:)
GMaciel,
O ditado "Quem se mete com garotos aparece mijado" também se aplica com demasiada frequência na blogosfera, pois a quase totalidade dos anónimos mal-dispostos são adolescentes em crise de borbulhas.
Se as estatísticas não tivessem sido sistematicamente adulteradas desde os anos oitenta, o simples valor real da taxa de analfabetismo nacional, funcional inclusive, deixaria muitos à beira do colapso...
Jovens e menos jovens revelam, em geral, uma assustadora incapacidade de ler, ainda que consigam alinhar algumas palavras.
E se o «patusco» referido é jovem, deparei-me recentemente - e fiquei espantado, como se não tivesse já idade para saber em que mundo vivo... - com alguém que, em blogue terceiro, fez um comentário maledicente e insultuoso contra aquele de quem se diz ser amigo...
Como muito bem diz GMaciel, este é um mundo virtual feito de pessoas reais. E muito reais!
Abraços para ambos! :-)
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