A PRINCIPAL PREOCUPAÇÃO de quem escreve - nomeadamente crónicas e artigos de opinião - é a de ser claro, para que não possa haver dúvidas sobre o que diz ou quer dizer. Ora, para ser bem sucedido nesse desiderato, tem de ter em atenção o expectável universo dos seus leitores, pois o mesmo texto poderá não ter a mesma receptividade (e compreensão) por parte dos do «Jornal de Letras», do «Correio da Manhã» ou dos que só lêem jornais desportivos.
A Internet (em geral) e a blogosfera (em particular), porém, tornaram de pouca valia tais cuidados, pois qualquer pessoa pode aceder a qualquer texto - o que, em si mesmo não teria mal nenhum se não se desse o caso de, por vezes, dar origem a mal-entendidos desagradáveis.
Assim, a solução (e a tentação...) pode ser a de nivelar por baixo a qualidade dos textos, procurando uma espécie de máximo divisor comum embora, eventualmente, em detrimento da - pelo menos pretendida... - qualidade literária.
Mesmo assim, há casos perdidos: é possível escrever alhos (recorrendo à linguagem mais chã) e vir alguém esgrimir contra bugalhos. E a experiência mostra que, em geral, de pouco adianta argumentar com esse alguém, pois, se não percebeu o texto inicial, também dificilmente entenderá os argumentos em sua defesa - mesmo que esteja de boa-fé.
Aliás, Scott Adams (o genial criador de Dilbert) já abordou esse problema (pois também ele, amiúde, se depara com leitores idiotas ou semi-analfabetos) recorrendo aos elbonianos, umas personagens que criou para esse e outros efeitos:
Numa tira, que ficou famosa, um desses imbecis informa:
- Escrever é fácil. Um dia esperamos também saber ler.