domingo, novembro 16, 2008




NO ALVO - OU QUASE

Ó papão vai-te embora






Antunes Ferreira
I
sto está cada vez pior. Alto lá: refiro-me a mim próprio, podem desafivelar esses sorrisos mais do que irónicos que tinham incorporado nos vossos rostos. Estou mesmo daqui a ver os cochichos oposicionistas - olhó gajo passou-se, alinha com os que, cheios de razão, afirmam sem pejo que o País está de rastos, obviamente por culpa deste Governo desgovernado. Este pode não estar muito bem, é certo. Mas, podem estar tranquilos. Quem está pior sou eu. Não tenho dúvidas a esse respeito. Peço-vos que não as tenham também. A desgraça, acompanhada solidariamente, suporta-se melhor, digo eu ainda.

Revivo, uma vez mais, o que me aconteceu na infância. Palavra de honra que não se trata de senilidade nem de saudosismo. É, tão-só, esse piorar de comportamento. Posso mesmo dizer que sou muito infeliz – abuso de mim próprio, porque sou pequenino. A balança, nem vê-la. A pobre, a ter voz, protestaria. É desumano colocar-lhe em cima qualquer coisita como 130 e picos; quilogramas, claro. Sou ou não sou pequenino?

Ainda que o Povo diga que de pequenino se torce o pepino, esta hortaliça Curcubitácea originária da Índia não é para aqui chamada, esclarecendo, para este texto. O que me leva à infância é a tradicional lenga-lenga que se cantava quando as criancinhas não aceitavam como lhes competia o Zé Pestana. Era assim: ó papão vai-te embora; de cima desse telhado; deixa dormir o menino; um soninho descansado. E o dito cujo dava às de vila-diogo, muito provavelmente para escapar à cantilena, não que fosse modelo de obediência.

Papões há muitos, tal como os chapéus, dos quais falava o Vasco Santana. Nestes dias que vão correndo, o principal, perdão, a principal e, assim, uma papoa: chama-se Manuela Ferreira Leite. Que tenta não deixar dormir o Sócrates. Em abono da verdade, com tal papão fêmea, o primeiro-ministro dorme para o lado que mais lhe convém e, pior, com os pés descalços.

Enquanto esteve calada, o que muito lhe criticaram, até dentro do próprio partido ao quadrado – partido partido é o que o PSD, que já foi PPD, é – pelo menos não disse barbaridades. Abriu a boca e não entrou mosca. Donde, as considerações que proferiu sobre os homossexuais, casamento é que não é, inventem outra coisa, ou sobre a “quase irresponsabilidade” socrática do aumento do salário mínimo. Para já não falar no apoio à posição dos professores. Pelo meio uma caterva de outras tantas. Não se trata de lista telefónica, senão este escrito teria de ser reduzido à centésima parte.

A última, sem tirar nem pôr, é a dos fundos estruturais, todos, todinhos, mas, em especial os da Agricultura. E logo o ministério de Jaime Silva veio afirmar que, em tal contexto, a senhora não tinha «previamente estudado a lição». O que, a ser verdade, é mau para quem se colocou ao lado dos que o devem (têm de) fazer: estudar a lição.

Ora muito bem. Na quarta-feira última, em Fátima, a líder (?) dos sociais-democratas (?) afirmara ter alguma dificuldade em passar a sua mensagem através dos meios de comunicação social. Por isso, foi pelo caminho mais fácil: responsabilizou a comunicação social de não passar as ideias do partido e afirmou que "não pode ser a comunicação social a seleccionar aquilo que transmite". Já cá faltava.

Realmente, face a isto, esta papoa, mesmo sem estar em cima de um qualquer telhado, não impede o «menino de oiro» do PS de dormir um soninho descansado. Mas a crise anda por aí, é incontestável. Não convém, portanto, que sonhe muito alto.

3 comentários:

Anónimo disse...

Excelente texto.

Ab

Jacinto Rato Mascarenhas disse...

Antunes Ferreira

Não é só a Manuela Ferreira Leite. É o Jerónimo de Sousa, é o Paulinho Portas é o Francisco Louçã que não prestam para chefiar um qualquer Governo. Ou seja, o Sócrates não tem oposição a sério. Se não vier a ganhar com nova maioria absoluta, apesar do que disse o António Costa, e no meio da tremenda crise mundial, este País sem governo vai ao ar.

Razão tinha o Sertório a propósito dos Lusitanos: «um povo que não se governa, nem se deixa governar». Ora, se somos descendentes desses pastores dos Montes Hermínios...

Anónimo disse...

O macaco perguntou para a mãe:
- Mãe! Por que somos tão feios?
E a macaca respondeu:
- Meu filho, devias dar graças a Deus por sermos assim. Devias ver quem está a ler esta mensagem!!

touaqui42