quarta-feira, dezembro 31, 2008



Um neófito artrítico

Antunes Ferreira
E
nquanto o triste do novo ano já está à espera de sair do gineceu e inclusive se desenferrujou a tesoura para lhe cortar o cordão umbilical, este velhíssimo, a cair de podre, encontra-se instalado no caixão e na antecâmara, breve de perder o pio e soltar o último arroto. Sem coroas de floristas nem coroas das outras, daquelas com que se compram os melões. Que, diga-se, estão pelas horas da morte, donde a citação.

Este abstruso 2008, que ora exala os últimos suspiros, não deixa memória que se preze. Daí que pense, convictamente, que ao lado do seu execrável velório existam apenas duas personagens que riem descarada e despudoradamente: a Dona Branca e o Mister McCain. Dos restantes seis mil e seiscentos mil milhões de desgraçados humanos que sobrevivem no planeta azul, nada consta.

Explico: a ilustre Senhora, muito justamente chamada a Banqueira do Povo, ainda que na cela, ter-se-á sentido antes na sela, cavalgando o contentamento. O seu exemplo fora finalmente seguido e, até, aumentado, pelo cidadão made in USA Bernard Lawrence Madoff. Se ela tivesse registado a patente, hoje, para além das gargalhadas estaria trimilionária pelos direitos de autor, mesmo descontando o IRS.

Quanto ao derrotado John Sidney McCain III, as bandeiras despregadas do seu riso justificam-se plenamente. Olha se tivesse ganho? O sarilho em que te tinha metido, mesmo que acompanhado pela inefável Sarah? O pobre do vencedor Barak Obama é que se meteu numa camisa de mil cento e onze varas, depois das urnas. Ninguém neste Mundo ou «no outro» (onde?) apanhou uma tal herança.

Realmente, herdeiro de uma crise que lhe explodiu nos braços, sem que nela tivesse qualquer responsabilidade, o novo inquilino da Casa Branca tem um futuro muito negro. É pai sem saber como, à semelhança do São José. Hoje, a existirem presentes (?) eles são esmagadoramente envenenados. A maioria sabe-o desde há muito. Obama mastiga-o agora. E, o que é pior, não o pode deitar fora.

Há, claro, umas quantas excepções, mas não passam disso mesmo, não servem senão para confirmar este ratio mesquinho. No caso português, e já nos chega este, arrisco-me a citar o Nelson Évora, o Cristiano Ronaldo, um primo afastado do Zé Povinho, a Marisa e… Nem o Saramago escapa, acusado de plagiar o tal mexicano Teófilo Huerta Moreno. Assim vai este mísero País, ainda que com o OE aprovado e o Estatuto dos Açores promulgado.

Balanço destes desgraçados 365 dias a que só falta o coveiro, a encomendação já está feita, seria, apara além de despiciendo, redondamente parvo. A balançar andaram eles todos, os das 24 horas e os que pensam que os protagonizaram. Leve-os o vento, para que não caia no pecado de neles pensar - apenas.

O novo ano, esse, coitado, já nasce de muletas, artrite generalizada, a caminho de sidoso e carregado de cáries dentárias, ainda que oficialmente desdentado, por mor da tenríssima idade que terá daqui a umas horas. Nem sabe, o infante, onde se vai meter. Devia existir um Sindicato dos Neófitos para valer nestas circunstâncias ao sócio que dele precisasse. É o começo – do fim.

Também publicado em www.aminhatravessadoferreira.blogspot.com e www.anonimasalina.blogspot.com

2 comentários:

lino disse...

Um Bom Ano e um abraço para os amigos do Cuaoleu.

stériuéré disse...

Bom 2oo9 e tudo de bom pa vocês todos!